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2 março 2017
Três dias na nova ‘fronteira da coca’: como drogas e armas entram livremente pela Amazônia
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Três dias na nova ‘fronteira da coca’: como drogas e armas entram livremente pela Amazônia
Posted Bykfantacini
Categoriesnotícias
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Felipe Souza e Ricardo SenraEnviados especiais da BBC Brasil a Tabatinga

Uma linha tortuosa de 1.632 km desenhada por rios em uma área praticamente inabitada na floresta amazônica. Esse é o cenário da tríplice fronteira brasileira com os maiores produtores de cocaína do mundo: Peru e Colômbia.
Com armamento pesado e lanchas potentes, narcotraficantes dos dois países enfrentam poucos obstáculos no transporte de armas e drogas para Tabatinga (AM), no lado brasileiro. A cidade, onde a pobreza e a falta de infraestrutura são flagrantes, é descrita por moradores da região como “quintal da FDN”. A sigla se refere à facção criminosa Família do Norte, que ficou conhecida mundialmente nos primeiros dias de 2017, quando dezenas de homens foram decapitados e esquartejados em presídios de Manaus. A origem dos massacres nas prisões, segundo autoridades, é justamente a disputa pelo controle dessa rota amazônica da coca. Argumentando falta de verbas e incentivo do governo, as forças de segurança da região dizem não conseguir controlar o vaivém do mercado ilegal na fronteira. A BBC Brasil foi conferir de perto a situação na fronteira. “Com os recursos que temos hoje em Tabatinga, é impossível controlar a fronteira”, disse um agente da Polícia Federal, mirando a imensidão do rio Solimões do único posto fluvial das forças de segurança na região.

‘Falta material humano’
Procurado, o Ministério da Justiça não respondeu por que não há helicópteros na região, nem comentou a falta de policiamento registrada pela reportagem. “Gestões são feitas diuturnamente para inibir e reprimir o crime e também subsidiar políticas para fortalecer o enfrentamento ao crime, especialmente na fronteira”, disse a pasta, por meio de nota. “A PF realiza em média cerca de 40 operações especiais por ano, que são especialmente para atingir organizações criminosas. Cerca de 300 pessoas são detidas por ano.” O ministério disse ainda que “tem priorizado a lotação dos novos policiais nas regiões de fronteira”, sem informar, entretanto, quantos homens serão deslocados para a área, nem quando. Procurado diversas vezes por telefone e e-mail, o Exército não respondeu a nenhuma das perguntas enviadas pela reportagem. No fim de janeiro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou a realização de uma série de encontros e reuniões com ministros de Defesa de países vizinhos, com a principal intenção de tratar da segurança nas fronteiras. Mas, desde então, nenhuma iniciativa concreta foi anunciada.
Água, terra e ar
A fragilidade da vigilância na fronteira brasileira na Amazônia não ocorre apenas nos rios. Nos três dias de fevereiro em que esteve em Tabatinga, a BBC Brasil testemunhou centenas de pessoas entrando e saindo do país com malas e sacolas sem qualquer revista.

Dinheiro e pessoas
No batalhão do Exército em Tabatinga, o coronel Nagy atribui as falhas na vigilância da fronteira à ausência do governo na região. “Faltam vagas de trabalho nos municípios, estrutura de saneamento básico, ruas pavimentadas, enfim, condições para que essa população tenha uma vida normal”, disse. Ele conta que, pela falta de oportunidades de estudo, muitos jovens não tem alternativa de renda a não ser o tráfico. “(Eles) participam desse tráfico ilegal de drogas e armas para ter uma condição de subsistência de vida”, diz. “Jovens com pouca condição de estudo enxergam nesse transporte a chance de ganhar 1, 2, 4, 5 mil reais, Este transporte é uma oportunidade fácil e rápida de ganho financeiro.”